ST 01

1. GT BAHIA
Título:
GÊNERO, RELAÇÕES RACIAIS, CULTURA E IDENTIDADES
Proponentes:
1. Profa. Dra. Maria Aparecida P. Sanches – UEFS/DCHF
2. Profa. Msa. Tânia Mara Pereira Vasconcelos – UNEB/DCH V

Resumo:
Este simpósio temático focaliza as pesquisas na área de gênero em suas múltiplas articulações com as identidades raciais e com o racismo, refletindo de que maneira as hierarquias de status, classe, raça e cor, assim como os condicionantes de geração e sexualidade, saúde e diferentes territórios nas cidades interferiram na estruturação de estratégias de sobrevivência e resistências das populações negro-mestiças na escravidão e no pós-abolição, articulando questões colocadas pelos debates pós-coloniais. O Simpósio visa também propiciar o debate historiográfico e preencher lacunas subjacentes a esse debate na historiografia brasileira e latino-americana, bem como discutir novas pesquisas nessa perspectiva de reflexão no sentido de compreender a forma pela qual se forjam as identidades gênero e raciais em suas articulações com as lutas anti-racistas no Brasil. O Simpósio Temático visa também agregar os pesquisadores e pesquisadoras com o objetivo de fomentar a interação de pesquisadores em História das Mulheres, Relações de Gênero, Relações Raciais, Feminismo e Feminismo Negro, Masculinidades, Sexualidades entre outros.

Palavras Chaves: Gênero, Raça, Cultura e Identidades

Justificativa:
A produção historiográfica Brasileira das últimas décadas tem articulado o conceito de Gênero a uma significativa gama de temas e discussões históricas: Gênero e Identidades, Gênero, Escravidão e Pós-Abolição (incluindo a dimensão da mudança nas categorias de cor e seus significados), Gênero e Racismo, Gênero e Feminismo, Gênero e Família, Gênero e Cidades, Gênero e Sexualidade, Gênero e Saúde, Gênero e Conjugalidade, Gênero e Cotidiano, Gênero e Honra, Gênero e o Mundo do Trabalho. O ponto chave dessa proposta está justamente no entendimento do conceito de Gênero como capaz de evidenciar mediante interações dinâmicas “entre os ideais contemporâneos sobre sexo/gênero, raça/etnicidade e classe social que se refletiram nos novos sistemas de identificação, classificação e descriminação social que se forjaram na consolidação da sociedade Ibero-americanas” (Stolke, 2006: p. 15) As naturalizações das desigualdades de gênero sempre aludem às relações de poder e são fundamentais aos processos de hierarquização social e racial. O conceito de Raça que estamos usando para entender as relações raciais tem por base a formulação do sociólogo Antonio Sergio Alfredo Guimarães, que o define como um conceito que implica numa forma de classificação social, baseada numa atitude negativa frente a certos grupos sociais. A realidade das raças limita-se ao mundo social. Definir Raça nestes termos nos permite pensar tal conceito como mais um processo de hierarquização das relações sociais com base em processos de “naturalização” das relações sociais como a noção biológica de sexo a qual o gênero vem questionar. O discurso racial e de gênero é sempre um discurso de classificação permeado de ambigüidades e marcará os processos históricos no que concernem as relações de trabalho, as relações maritais e sexuais e a construção da cidadania para homens e mulheres como um todo e para os afrodescendentes em particular, principalmente no âmbito das formulações de uma ciência médica e jurídica que atuou decisivamente na construção social de sistemas de classificação e exclusão, principalmente na República, quando o discurso da nação mestiça é formulado de forma a positivizar a presença negra na sociedade, vista anteriormente como deformadores e inviabilizadores das relações sociais, sem, contudo, eliminar, na prática, nem as hierarquias de cor com base no conceito de raça, nem o desejo de construir uma nação branca, moderna e europeizada.

BIBLIOGRAFIA
BUTLER, Judith. Problemas de gênero – feminismo e subversão da identidade. Trad. Renato Aguiar. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

FRY, Peter. A Persistência da Raça. Ensaios Antropológicos sobre o Brasil e a África Austral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

GUIMARÃES, Antônio S. Alfredo. Racismo e Anti-Racismo no Brasil, São Paulo: Ed 34, 1999.

SANCHES, Maria Aparecida Prazeres.  As Razões do Coração: Namoro, Escolhas Conjugais, Relações Raciais e Sexo-afetivas em Salvador 1889/1950. Tese de Doutoramento, Niterói: 2010.


STOLKE, Verena.  O enigma das interações: classe, raça, sexo, sexualidade. A formação dos impérios transatlânticos do século XVI ao XIX. Estudos Feministas, 14(1), Florianópolis: 2006.